segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

Nascimento da poesia

 


 

Nascimento da poesia

 

 

Eva não comeu da maçã no Paraíso, comeu um figo.

Estava embaixo de um figueira,

opulenta,

carregada de figos maduros, abertos ao sol de tão maduros,

e não em baixo de um macieira,

essa árvore sem graça

que produz umas frutas sem graça

como areia

molhada.

Adão comeu o figo e soube que era bom. Adão conheceu

o bem e o mal

e cobriu-se com as folhas da figueira.

Adão e Eva foram expulsos do Paraíso cobertos de folhas

de figueira.

Tinham descoberto o sexo e o amor entre um homem

e uma mulher

e estavam felizes e tristes como um rouxinol

no escuro

da madrugada – nessa hora em que se abre o ovo da poesia.

 

Gregório Vaz
2012

terça-feira, 10 de agosto de 2021

 

                                                                                                Chico Alvim

quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

Casa 58






Casa 58


Uma voz fala no vazio -
voz de quem não estava lá.
A vida é feita de mistérios.

Quem atirou? E quem mandou?
A voz do enigma não se cala -
o mordomo estava na sala?

O porteiro que se enganou?
Mas quem o crime planejou?
Mas quem o crime festejou?

A festa que mal começou
e gente santa festejava:
era uma comunista a menos.


                      Gregório Vaz






A suicida





A SUICIDA

Uma mulher caiu do vigésimo andar
bem a seus pés
afastou-se para não molhar os pés no sangue
mas não pôde desgrudar-se do olhar
da mulher morta
era como se olhasse para ele
                        numa súplica final






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