terça-feira, 30 de junho de 2009

Tinha um osso no meio do caminho



Tinha um osso no meio do caminho
era um osso nu
brilhava ao sol
tinha sido roído por um cachorro faminto
até o osso

Não era um osso humano
eu sabia
mas fervi os miolos me questionando e
se fosse meu aquele osso
da minha coxa ou da canela?

Era um osso feio pra caramba
se fosse meu continuaria a ser feio
assim é a vida, o ser humano é feio
depois de morto
quando osso
quando já partiu para o nada

Ó nada, rogai por nós
ó nada, tende piedade de nós.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

O comedor de urtigas

Eu já fui um comedor de urtigas.
Não propriamente das folhas de urtiga,
que provocam a dor, aquele rascar na alma,
mas de flores de urtiga, as sublimes.

As flores de urtiga são deliciosas.
Ou eram, mas todo passado é presente.

As flores de urtiga são rosadas
e sabê-las tão perto da dor, que prazer!
Eu era criança, mas juro que era um prazer sexual.

A memória das urtigas na língua leva ao êxtase,
outro nome do orgasmo.

A guilhotina

Não sou muito bom da cabeça
nem entendo de profecias
mas sei que o mundo vai-se acabar
ou talvez já se tenha acabado.

Os homens são muito distraídos,
nem percebem o que aconteceu
ou com certeza vai acontecer.

Ouço um gato uivando no escuro
(parece uma criança esganada,
mas é apenas um gato apaixonado)
e isso é um sinal claro

de que o mundo vai-se acabar
ou talvez já se tenha acabado.
Estou me repetindo, mas o mundo
é repetição. Não existe outra verdade.

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