terça-feira, 27 de setembro de 2011

AS MALDITAS PALAVRAS



Então você ouve a descarga,
a música fúnebre de descarga
da privada
e será
como se todas as suas palavras se espiralassem
ali
com as suas fezes
gritando o seu desespero inútil.

Você sente no vazio do estômago,
nos olhos vazios,
nos ossos
a fome, a angústia da fome
de qualquer impossível humanidade.

Você vai se agarrar à cama
olhando o teto frio
olhando a sua solidão sem remédio.

Você pede a Deus que lhe devolva as palavras,
mas para quê?
o que você faria com as malditas palavras?



terça-feira, 6 de setembro de 2011

A MINHA SOMBRA


O que eu faria sem a minha sombra?
O seu silêncio, a sua música
me envolvem.
Como um veludo, uma corda
trançada
a minha sombra me sufoca.
E me enleva,
me eleva até o êxtase.

Existo porque tenho a minha sombra.
Deixo de existir
só de imaginar a anulação da minha sombra.
É uma figuração, pantomima, algo alheio
a mim
e no entanto sou eu que estou ali.
Se não estou, 
é quem me justifica
– sem ser alguém, é quem
me justifica.

Um dia serei pó
e não terei mais a minha sombra.
Um dia serei silêncio,
um dia não ouvirei
o silêncio e a música da minha sombra.
Não ouvirei o mundo.
Eu me olharei no espelho 
e não verei nada.
Olharei para trás
e estarei na solidão absoluta.

Quebrarei o relógio do universo
inútil,
solto no abismo do tempo
com as estrelas se espiralando em seu buraco negro.



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