domingo, 15 de maio de 2011

O POEMA ESTÁ PRONTO


                                    O poema está pronto
quando o poeta desaparece.



sexta-feira, 13 de maio de 2011

COMO UM RIO SEM PLUMAS


Você se lembra do cadafalso?
Como era duro subir as escadas?
Como não nos reconhecemos
no espelho da multidão?
Não nos reconhecemos em nenhum espelho.

A corda nem deixa marcas no pescoço.
Nem percebemos quando a guilhotina
nos cortou a cabeça.
Apenas somos outros.
Um outro ri no espelho,
Caçoa com todos os dentes.

A bola da infância vai e vem
no espelho, sobre o fogão
entre as labaredas e a fumaça.
Mastigavas papoulas
e pipocas saltitantes como anjos felizes.

A infância,
se não for a salvação,
é o único consolo.
O gato e o cachorro brincam
debaixo da mesa, eu rio como um rio sem plumas.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Ubi sum


Estou onde devo estar.
O fogo desta casa?
O ar desta cidade?
O corpo que me veste?

Os limites que me vestem?
O tempo contido no vento?
Talvez a vida não seja,
mas sei onde devo estar.

Não aconteceu
o que deveria acontecer?
Não estou num lugar.
Não sou apenas uma ideia.

Estou no vento.
Passo com o vento,
mas permaneço
na luz que o vento acende.



segunda-feira, 9 de maio de 2011

PAISAGEM COM URUBUS


Os urubus nos mourões
da cerca de arame farpado
contra o céu pesado
de nuvens escuras.

O capim verde
espera a água da chuva.
As montanhas ao fundo
engordam sob o olhar.


domingo, 8 de maio de 2011

OS URUBUS


 Os urubus abrem as asas
sobre as folhas verdes
do umbuzeiro.

Solenes, nobres, reais,
com as coroas rosadas
ao sol.

Gritam
no dia claro.

Calam
como a morte.



sábado, 7 de maio de 2011

TENTAÇÃO


 O poema destrói a estrutura do meu corpo
e o mais íntimo de mim, o que eu sou, no corpo.

O poema é uma pedra sobre o meu corpo.
É feito de palavras, que são pedras,
e me cobrem, completamente.

Como conformar-me à forma alheia
no espelho, como se fosse minha?

A palavra, com sua carga de inutilidade,
me tenta, quer reerguer-me de minhas ruínas.

As ruínas são o meu próprio ser
ainda que ruínas do meu próprio poema,
cacos de palavras, pedras sobre pedras.



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