terça-feira, 1 de setembro de 2009

Soneto do burocrata gentil

Eu quero o meu enterro com desdém,
o público virando-me o nariz,
cuspindo no caixão, como convém
a quem de todos foi o mor juiz.

Meu enterro... Que eu seja aniquilado!
Para que nada reste do meu corpo,
que sofreu um destino mais que torto.
Quero tudo, alma e fezes, bem queimado!

Os ideais, mentira! Que um defunto
conhece mais que o mundo inteiro junto,
e eu sei de todos toda a falsidade.

Raio de vida, como é boa a morte!
Santo Diabo, eu não quero um outra sorte
que o frio do nada, a fria eternidade.

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Sete sonetos em estado de graça, in Exílio, 1983.

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