quinta-feira, 25 de agosto de 2011

CUCO


O pássaro na gaiola
olha o relógio
e canta

Canta o tempo
esse inimigo
invisível

O pássaro no relógio
está morto
e não sabe

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

O LIMÃO


Apanhei um limão no galho.
Uma gota de sangue ficou suspensa num espinho,
caiu no chão,
fertilizou a terra.

Derramamos sangue
quando nascemos e quando morremos.

Um limão me desperta a consciêrncia
da vida e da morte.





terça-feira, 9 de agosto de 2011

POETA?


Poeta? Apenas um homem manco
na estrada, no meio
da rua, olhando
a lua, olhando nada.

Eu me encosto no barranco
e olho a paisagem
e colho a imagem do dia
em agonia por mais que faça sol.

Abro um girassol contra
o arrebol. O poema? Colhido
como um fruto, enxuto
como uma pedra.

A dor medra entre o finito
e o infinito.

E o poema bate asas sobre
as casas dos homens aflitos
contra a sua fome, contra o não,
como um apelo à contemplação.



sábado, 6 de agosto de 2011

Caem anjos


Caem anjos
sujos de fuligem.

Caem anjos
com as asas quebradas,
depenadas.

Caem anjos
sobre a cidade vazia
dos homens empalhados.

Caem anjos
e ninguém para chorar,
ninguém para bater palmas.



segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Por estes campos de trigo


Por estes campos de trigo
dourados ao sol dourado
que verei além da minha solidão?

Em terra estranha e sob céu alheio
carrego a minha dor nos ombros
curvados, quase quebrados.

Uma ave estranha sobrevoa
a minha carcaça desajeitada
como um espantalho ao vento.

Que mais espero da vida?
Modulo palavras de ausência.
As palavras são insuficientes para o amor.



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