segunda-feira, 14 de setembro de 2009
Soneto do bêbado sonhador
Como é bom estar bêbado ao luar
uivando como um lobo triste ou louco,
sofrendo a dor maior e achando pouco,
ansiando por morrer e por matar.
A mulher do vizinho vou amar
e me sinto uma mosca amando um touro:
a dona é uma baleia, é um tesouro
e me entrega o ouro muito devagar.
Vendo a minha alma ao diabo por milhões
e energia de estrondo aos meus culhões.
Tudo é orgia, a vida me repete.
... O diabo deu-me o cano e despedi-o.
Eu mesmo bebo e minhas luas crio,
com meu umbigo frio ninguém se mete.
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segunda-feira, 7 de setembro de 2009
Soneto do sol da meia-noite
Gosto do teu perfume vagabundo,
excita-me esse cheiro nauseabundo.
Tua nudez mulata, saborosa,
imaginá-la apenas, já se goza.
Eu possuo o teu corpo delirante,
arfando numa cama de bacante.
Ondulas como uma serpente, suando,
num incessante orgasmo agonizando.
Tua volúpia trêmula de medo
me transforma num lúbrico morcego.
Quero os dentes cravar com toda fúria
no teu pescoço, seios, sexo e boca.
O teu sangue fervente de luxúria
quero sugar até a última gota.
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Sete sonetos em estado de graça, in Exílio, 1983.
terça-feira, 1 de setembro de 2009
Soneto do burocrata gentil
Eu quero o meu enterro com desdém,
o público virando-me o nariz,
cuspindo no caixão, como convém
a quem de todos foi o mor juiz.
Meu enterro... Que eu seja aniquilado!
Para que nada reste do meu corpo,
que sofreu um destino mais que torto.
Quero tudo, alma e fezes, bem queimado!
Os ideais, mentira! Que um defunto
conhece mais que o mundo inteiro junto,
e eu sei de todos toda a falsidade.
Raio de vida, como é boa a morte!
Santo Diabo, eu não quero um outra sorte
que o frio do nada, a fria eternidade.
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Sete sonetos em estado de graça, in Exílio, 1983.
o público virando-me o nariz,
cuspindo no caixão, como convém
a quem de todos foi o mor juiz.
Meu enterro... Que eu seja aniquilado!
Para que nada reste do meu corpo,
que sofreu um destino mais que torto.
Quero tudo, alma e fezes, bem queimado!
Os ideais, mentira! Que um defunto
conhece mais que o mundo inteiro junto,
e eu sei de todos toda a falsidade.
Raio de vida, como é boa a morte!
Santo Diabo, eu não quero um outra sorte
que o frio do nada, a fria eternidade.
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Sete sonetos em estado de graça, in Exílio, 1983.
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