segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

Nascimento da poesia

 


 

Nascimento da poesia

 

 

Eva não comeu da maçã no Paraíso, comeu um figo.

Estava embaixo de um figueira,

opulenta,

carregada de figos maduros, abertos ao sol de tão maduros,

e não em baixo de um macieira,

essa árvore sem graça

que produz umas frutas sem graça

como areia

molhada.

Adão comeu o figo e soube que era bom. Adão conheceu

o bem e o mal

e cobriu-se com as folhas da figueira.

Adão e Eva foram expulsos do Paraíso cobertos de folhas

de figueira.

Tinham descoberto o sexo e o amor entre um homem

e uma mulher

e estavam felizes e tristes como um rouxinol

no escuro

da madrugada – nessa hora em que se abre o ovo da poesia.

 

Gregório Vaz
2012

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