Nascimento da poesia
Eva não comeu da maçã no Paraíso, comeu um figo.
Estava embaixo de um figueira,
opulenta,
carregada de figos maduros, abertos ao sol de tão maduros,
e não em baixo de um macieira,
essa árvore sem graça
que produz umas frutas sem graça
como areia
molhada.
Adão comeu o figo e soube que era bom. Adão conheceu
o bem e o mal
e cobriu-se com as folhas da figueira.
Adão e Eva foram expulsos do Paraíso cobertos de folhas
de figueira.
Tinham descoberto o sexo e o amor entre um homem
e uma mulher
e estavam felizes e tristes como um rouxinol
no escuro
da madrugada – nessa hora em que se abre o ovo da poesia.
Gregório Vaz
2012
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