E AGORA, ZÉ
No fim da minha vida
fiquei só comigo mesmo
e comigo me desavim
Aprendi o pulo do gato
mas o gato está quase morto
e agora, Zé?
Quem não tem cão caça com gato
mas o gato está quase morto
mas não se chuta cachorro morto
digo e repito
e agora, Zé?
No meio do caminho tinha um
buraco
quebrei a perna e a cabeça
Uma garrafa explodiu
me cortou o pulso mas sobrevivi
sem eira nem beira
e agora, Zé?
A máquina do mundo estava
quebrada
não funcionava nem a pau
A poesia não era a solução
(não era nem um soluço pequeno)
e agora, Zé?
Por mais que subas nos mastros
por mais que procures os astros
sempre andarás de rastros
serás sempre o mesmo poetastro
e agora, Zé?
(Se não fosses um poetinha
fumando cachimbo
ou chupando pirulito
que graça que a vida tinha?
Mesmo longe do mar,
se console, Zé.)