sexta-feira, 22 de junho de 2012

A FESTA DOS MORTOS


Os mortos são sombra, Mavutsinim,
e sonhas a seiva do ar, o fogo do espírito.

Os tronos de kuarup pintados, adornados
de penas de arara e fios de algodão
foram fincados na praça da aldeia
e os maracá-êp cantavam sem cessar
chamando-os à vida, à luz rubra do sangue.

Não choremos os mortos, é dia de festa.
Os mortos reviverão, com a força do sol.
Cantemos, irmãos, alegres cantemos.
A madeira verde se faz carne e dança
com os nossos cânticos jubilosos.

Mas os mortos são sombra, Mavutsinim,
e é sombra o nosso apelo fementido.
São os convivas da morte, os mortos.
O kuarup é a sua festa, são as flores
de cânticos e danças às sombras
dos mortos que não mais retornarão.



quinta-feira, 14 de junho de 2012

O DESTINO DOS MORTOS


Onde Uatsim, o meu amigo tão amado?
Por que não volta para comigo se encontrar?
Quando ouvirei o riso dos espíritos,
no dia em que o sol, negro, não brilhar?
Quando irei com a sombra do meu amigo
à festa da luta contra os pássaros?

Os espíritos tornam-se cobras, à noite,
e eu, Aravutará, não tenho medo.
Os sapos matarei, com minha borduna,
e os caranguejos ferozes, com os pés.
Construo forte ponte sobre o córrego
e apago o fogo que amedronta os mamaés.

Mas onde o meu amigo, que não vem?
Quero a seu lado lutar contra os pássaros,
a arara, o jaburu, o tucano, o recongo.
Quero encher de penas o meu tuavi.
A minha flauta tocarei para me defender.
Verei o gavião grande comer os mamaés,
que perecem para sempre no dia negro
quando celebram a sua festa da morte.

O meu amigo não se vá com o gavião,
quero ver o meu amigo evolar-se no ar azul.
Por que não vem para comigo se encontrar,
Uatsim, o meu pobre amigo tão amado?
Onde os vastos e velhos campos da morte
unem-se aos nossos verdes campos da vida?



terça-feira, 5 de junho de 2012

GONÇALVES DIAS, O POEMA


A canção do exílio e o canto do guerreiro
i-juca pirama e a canção do tamoio
a concha e a virgem, ainda uma vez adeus
se se morre de amor e o canto do piaga

Marabá e o gigante de pedra
leito de folhas verdes e deprecação
seus olhos, minha vida e meus amores
amor e delírio - engano e recordação

A escrava e o mar. epicédio e a rosa no mar
a noite, o amro, sempre ela, palinódia? espera!
olhos verdes, não me deixes, rola, zulmira
a mendiga sobre o túmulo de um menino

A minha terra e o canto do índio
O que mais dói na vida, meu anjo, escuta
Oh! que acordar! se muito sofri já, não me perguntes
Se te amo, não sei! como! és tu?




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