quinta-feira, 14 de junho de 2012

O DESTINO DOS MORTOS


Onde Uatsim, o meu amigo tão amado?
Por que não volta para comigo se encontrar?
Quando ouvirei o riso dos espíritos,
no dia em que o sol, negro, não brilhar?
Quando irei com a sombra do meu amigo
à festa da luta contra os pássaros?

Os espíritos tornam-se cobras, à noite,
e eu, Aravutará, não tenho medo.
Os sapos matarei, com minha borduna,
e os caranguejos ferozes, com os pés.
Construo forte ponte sobre o córrego
e apago o fogo que amedronta os mamaés.

Mas onde o meu amigo, que não vem?
Quero a seu lado lutar contra os pássaros,
a arara, o jaburu, o tucano, o recongo.
Quero encher de penas o meu tuavi.
A minha flauta tocarei para me defender.
Verei o gavião grande comer os mamaés,
que perecem para sempre no dia negro
quando celebram a sua festa da morte.

O meu amigo não se vá com o gavião,
quero ver o meu amigo evolar-se no ar azul.
Por que não vem para comigo se encontrar,
Uatsim, o meu pobre amigo tão amado?
Onde os vastos e velhos campos da morte
unem-se aos nossos verdes campos da vida?



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