sábado, 15 de dezembro de 2012

O ESPELHO DO POEMA





O ESPELHO DO POEMA


Os dias sucedem-se aos dias
e às noites, sobretudo às noites.
Tudo é rotina neste lugar
onde moro. Sou como Sísifo,

mas não me imaginem feliz.
Feliz é o cavalo de Napoleão
que ri sem nenhum motivo
ou apenas por ser o cavalo

de Napoleão. Imaginem Camus
feliz. Camus tinha todos
os motivos mais um para ser
feliz: não era professor nem

poeta. Escrever é uma sina
não de todo impune: a escrita,
se não salva quem escreve ou
quem lê, salva a si mesma.

Outro fim não tem a escrita,
sobretudo se o escrevinhador
olha no espelho chamado poema,
e a vê: salva conquanto destruída.








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