O ESPELHO DO POEMA
Os dias
sucedem-se aos dias
e às noites,
sobretudo às noites.
Tudo é rotina
neste lugar
onde moro. Sou
como Sísifo,
mas não me
imaginem feliz.
Feliz é o
cavalo de Napoleão
que ri sem
nenhum motivo
ou apenas por
ser o cavalo
de Napoleão.
Imaginem Camus
feliz. Camus
tinha todos
os motivos
mais um para ser
feliz: não era
professor nem
poeta.
Escrever é uma sina
não de todo
impune: a escrita,
se não salva
quem escreve ou
quem lê, salva
a si mesma.
Outro fim não
tem a escrita,
sobretudo se o
escrevinhador
olha no
espelho chamado poema,
e a vê: salva
conquanto destruída.
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