sexta-feira, 13 de maio de 2011

COMO UM RIO SEM PLUMAS


Você se lembra do cadafalso?
Como era duro subir as escadas?
Como não nos reconhecemos
no espelho da multidão?
Não nos reconhecemos em nenhum espelho.

A corda nem deixa marcas no pescoço.
Nem percebemos quando a guilhotina
nos cortou a cabeça.
Apenas somos outros.
Um outro ri no espelho,
Caçoa com todos os dentes.

A bola da infância vai e vem
no espelho, sobre o fogão
entre as labaredas e a fumaça.
Mastigavas papoulas
e pipocas saltitantes como anjos felizes.

A infância,
se não for a salvação,
é o único consolo.
O gato e o cachorro brincam
debaixo da mesa, eu rio como um rio sem plumas.

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