
A lâmina nos olhos
O universo sobre a minha cabeça
como um chapéu ou a coroa do velho
Rubião. A incógnita da servidão.
Humana é a dor. Arco, estrelas, flor? Estou só
e sei o tamanho do meu ânus. Uso palavras
poucas: o prisma, os sete sentidos. No mais
digo o que digo, o coração na mão.
Não sei meu destino. A morte é dos puros
das namoradinhas de antigamente. Meus são
os pesadelos, a febre e seus minotauros
seus monstros de mil faces e uma só: as jaulas
assépticas da cidade podre, o lodo por baixo.
Óleo, excremento, pus: máquinas lubrificadas.
O poeta é um animal cansado: rumina o mito
espumas na boca. Chega a hora do silêncio.
Esquartejemos o poema! Seu fel, sua negra beleza.
Chega a hora das alucinações desenfreadas.
Pulmão noturno, o belo pulsa.
O crime, a lepra, a espera de dias melhores
que virão, virão, um cadáver está dizendo.
A cidade dorme, a cidade é uma asquerosa
megera dorminhoca. É a hora, é a hora.
As luzes se apagaram, tudo é miragem.
Escarrem com raiva, inventem a raiva.
Quem tem medo, afogue-se no rio do trânsito.
Tudo é passagem. Não me peçam sensatez.
Quem não mata o que ama, não viveu.
A verdade está acima de todas as convenções
quando o espelho, a lâmina nos olhos.
Viva a náusea. Estamos vivos.
Alucinações! Relógio da solidão. Vamos
dançar uma valsa sobre nossos túmulos futuros.
Viva a alegria! Tiro o chapéu. Vai, universo
vai passear por aí. Hoje viveremos.
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