domingo, 30 de setembro de 2012
quinta-feira, 20 de setembro de 2012
EU E O OUTRO
“Cria o teu
ritmo e criarás o mundo.”
Eu era
adolescente quando li esse verso de Ronald de Carvalho. Pareceu-me de imediato
uma chave para a poesia. Simples. Básico. Bastava-me criar o meu ritmo e eu
seria poeta. Fácil, não? Ainda hoje estou tentando criar o meu ritmo, falar com
a minha voz.
Há sempre um
outro por trás. Talvez meu outro eu. A minha máscara – essa que todo poeta usa.
Essa que, afinal, fala com a sua voz.
Dizem: o seu
estilo é inconfundível. E me confundem, se confundem, não me reconhecem no que
escrevo.
Como quando,
certa vez, eu era jovem ainda, mostrei um pequeno poema de Drummond a umas
amigas. Elas ficaram assim, assim. Como quem não sabia o que dizer. Então eu
disse: “É de Drummond.” “Ah, bom”, disseram.
Não era apenas
bom, o poema. Bom como eu não seria capaz de fazer. Tinha mais, tinha uma voz
que não era a minha – mas se confundia com a minha em sua impessoalidade.
Impessoalidade.
Contento-me lembrando Gide: Estilo é não ter estilo. O estilo ideal é não se
denunciar por artifícios de linguagem, por enfeites, floreios, etc. A linguagem
ideal é a que parece de todo mundo. Nem se percebe que por trás há o homem.
Por trás há o
outro.
Eu é um outro,
dizia Rimbaud. E Borges vivia brigando com o seu duplo.
Uma vez, faz
trinta anos, criei um sósia: Gregório Vaz. Chamei-o de heterônimo, pretendendo
uma despersonalização como a de Fernando Pessoa. Acabou ficando tão parecido
comigo, que se o uso hoje é apenas como pseudônimo.
Afinal, qual é
o meu estilo? Talvez eu tenha atingido o ideal de não ter estilo. Posso até me
vangloriar: isso é para os grandes.
O outro sorri
no espelho. Escárnio ou leve mofa.
José C. M. Brandão
AMÉM
AMÉM
Ó Deus, quando
me criaste um vulcão explodiu.
Os lagos se
fizeram lavas e voaram como cisnes rubros.
Eu me julguei um
cavalo voando além da terra e do céu.
Eu pensei que
sabia todas as respostas.
Pensei que podia
inundar o deserto com minhas ondas.
O meu mar de
soberba era insaciável
Continua
insaciável o meu abismo de soberba e molície.
A tua Mãe me
pisou a cabeça, eu era a serpente.
A tua e minha
Mãe me carregou no colo, eu era a criança desprotegida.
Eu era um verme
do pó, indigno do perdão, indigno do Pão da tua carne.
O teu Verbo me
salva contra qualquer expectativa.
O teu Verbo se
ergue contra a minha insignificância e a luz é feita.
A tua Luz, ó meu
Senhor, o teu Espírito desce contra as trevas da minha alma.
A tua língua de
fogo se eleva e a minha alma será salva.
Ó Deus, amém.
Espero a
condenação com a certeza dos pérfidos.
Espero a
condenação: o meu prêmio, o labéu da minha infâmia.
Se queres
salvar-me, amém. Ó Deus, amém.
quarta-feira, 5 de setembro de 2012
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