domingo, 10 de abril de 2011

PREFIRO NÃO


 Como Bartebly preferiria não fazer o que tenho que fazer.
Como Bartebly preferiria não fazer, simplesmente,
sem explicação alguma.
Um piparote para as etiquetas.
Sei que Bartebly não falava em etiquetas,
eu preferiria não falar e não etiquetar.
A vida é etiquetada demais.

Bartebly era um escriturário que deixou de escrever.
A vida não tem escrita demais?
Para que tanto escrever?
Os poetas querem criar imagens deste mundo,
imagens de um outro mundo apenas imaginável.
Tudo seria bem mais simples se ninguém mais escrevesse.
Não vivemos fazendo cópias de cópias de cópias?
Não podemos aprender com um personagem de ficção,
um Bartebly, a dizer não?

O mundo ainda não é Wall Street, mas um dia será.
Por que a pressa, meus irmãos? Digamos não.
Seremos todos burocráticos? Preferiria não.
Prefiro não ir, prefiro não falar, prefiro não escrever.
O que é que eu tenho a ver com a organização moral do mundo?
Devo seguir os ditames, os imperativos da minha consciência?
Preferiria não. Prefiro não. Wall Street que se dane.

Sentar-me atrás de uma escrivaninha e escrever?
Salvarei o mundo se continuar a ser um escriba?
O mundo quer ser salvo? O mundo precisa ser salvo?
Adianta salvar o mundo? Conseguirei impedir que o mundo
se transforme em cifras? Conseguirei evitar a destruição
do homem? Não será essa uma impossível salvação?
Diante da angústia que me consome, prefiro não.
Sem quê nem porquê, com meus olhos baços,
com a minha língua trôpega, prefiro não, prefiro não.



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