RETRATO
Eu sempre tive esta mesma cara,
meio séria, meio esquiva, meio ignara,
com os olhos vesgos
e a língua ferina.
Eu sempre tive estas unhas de arpão,
feias e mortas de medo;
eu sempre tive este coração
de gelo.
Eu nunca mudei a minha dor:
sempre fui o mesmo vulto esconso
fiando na roca e no fuso
de um espelho obtuso.
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