domingo, 12 de junho de 2011

D'APRÈS MARIANNE MOORE


 PALAVRAS

Meu pai costumava dizer:
“Visita dá duas alegrias: quando chega e quando vai embora.”
Não que não gostasse de visitas: era o modelo do anfitrião,
Sempre um cavalheiro, orgulhoso de servir ao outro.
Não citava autores importantes, filósofos ou poetas
­­- embora conhecesse um ou outro poeta.
Para ele a poesia e a sabedoria – a mesma coisa, afinal –
Vinham da terra, da vida, dos homens convivendo com outros homens.
Supérfluo o conhecimento que vem dos livros,
Palavras que ficam, sem sangue, sem a presença do homem.
Meu pai nunca escreveria um poema: palavras vazias
Numa folha de papel, no bronze, no vago espelho do tempo.
O poema era o seu grito apartando as vacas, os bezerros
No final do dia, cansado e orgulhoso de existir.
E as visitas? Estamos na terra de visita
À espera da alegria da partida. Tudo é alegria, diria.


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