segunda-feira, 6 de julho de 2009

O poeta e seu tempo



Morro ontem, renasço amanhã
e a todo vapor
uma flor na boca
uma lagartixa nos cabelos
irracional e belo como a primeira manhã
a primeira mulher, o primeiro poema.
Renasço com asco e faço
de um estopim na perna de um pato
de uma pomba
a beleza do amor que morre
e ressurge das cinzas.
Morro triunfalmente
e volto, corro pelas ruelas de Paris
Estocolmo e Lisboa gris.
O poeta mexe com seu pauzinho torto
a sopa de palavras e o poema
é a única realidade provável.
Morro e renasço
estúpido, estupendo, fenomenal.
Vou e fico
com cupido, mil estampidos
e as cáries dos dentes da Mona Lisa.
As rugas, perucas, sanguessugas
babando a loucura
lógica e pura.
Viva a poesia! Morram
os urbanos comedores de olhos!
Abaixo tudo que está acima
da sensibilidade e seus guizos
de festa ingênua, bucólica
e fora com todas as cólicas!
Civilizações! Saiu tudo pelo avesso
o defunto nem está fresco nem seco
mas é defunto, enorme e imundo presunto
mundo mundo sem rima nem cão.
Viva o sonho
o gato, a lebre, a presunção.

______________________

in Exílio, 1983.

6 comentários:

  1. Olá meu novo amigo.
    Não tenho nada a declara.
    Pois se trantando desse excelente poeta.
    Uma semana de muita paz, amor e luz.
    Parabéns pelo gosto de postar mais uma obra dele.
    Fique na paz.
    Beijinhos de glorias e bençãos.
    Regina Coeli.

    Aguardo sua visita ao meu cantinho.

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  2. Adorei________simplesmente!


    Um beijo meu

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  3. Muito bom! Poesia mesmo! Gostei muito! Abraço

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  4. eu ando por aqui desde o princípio, em buisca da heteronimia. acho que a encontrei hoje.

    beijo, Gregório:)

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