terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

A ESTÁTUA DE GESSO


 
 
Vou falar mais uma vez da estátua de gesso
que eu quebrei quando era criança.
Disse à minha mãe que o culpado foi o vento,
eu não era um artista,
nem sabia o que era isso.

Esse é o destino dos poemas: foi o vento.
Os poetas nem sabem mais o que é isso.
Gozado como continuam fazendo poesia
com um ar de intelectuais
que dominam a sua arte
de intelectuais.
Como se a arte fosse um objeto intelectual.
Pior, como se isso fosse uma condição sine qua non
para um poema ser um poema.

Havia um espelho por detrás da estátua de gesso.
O espelho refletia a estátua de gesso
e refletia a minha cara de espanto e medo infantil.
Eu não sabia,
mas começava a conhecer o espanto e o medo –
essas condições para um poema ser um poema.

Há outras, mas o mundo caminha para o fim tão depressa
que não há tempo para enumerá-las
nem adianta.


2 comentários:

  1. Isso foi real?

    Há tantos rótulos para as coisas, estilo, arte, definições demais.

    Basta uma criança e um vento e está pronta a arte e quem sabe um poema lindo como esse.

    Parabéns, poeta!

    Beijos

    Mirze

    ResponderExcluir

Visualizações de páginas da semana passada