Eu já fui uma criança feliz
sem ideais
nem palavras
ou outros acessórios
As árvores me bastavam
os galhos e os troncos carregados
de pássaros e de jabuticabas
O jardim em frente de casa
tinha todas as flores
minhocas lagartos e lagartixas
Eu tinha um cavalo alazão
tinha até um unicónio
rodeado de mil borboletas
De repente fiquei sábio como o orvalho
sobre o estrume no pasto das vacas
como se eu conhecesse o mistério
de Deus e do universo agrário
Tudo era agrário naquele tempo
tudo deveria ser ágrafo naquele tempo
quando nem o tempo existia
Meu pai fazia vassouras na cozinha
contando histórias do novelo da memória
com a sabedoria dos velhos patriarcas
Minha mãe tinha uma arca de costura
costurava os caminhos da vida
com a diligência de uma profetiza
Um dia acordei fora de casa
fora de qualquer espelho
ainda inundado de luz
mas cego
um cego guiado por um cachorro cego
Gregório Vaz
li mais de uma vez este poema - ele me toca, me deixa com certas 'fervências' na cabeça
ResponderExcluirfalar mais, para quê?
beijo, El
Muito Lindo, José Carlos!
ResponderExcluirA visão de Gregório é fascinante. Não sei como consegue.
Aplausos!
Beijos
Mirze